A Espeleologia Internacional está em luto!

solidaAdolfo Eraso, Luiz Amore e Marcelo Taylor sobre a gruta do Lapão, Lençóis, BA (agosto de 1988)

Com muita tristeza, comunicamos o falecimento do grande Espeleólogo e amigo espanhol Adolfo Eraso Romero, no dia 29 de maio de 2021, em Plasencia, Espanha, aos 86 anos.

Adolfo Eraso iniciou sua trajetória na espeleologia nos anos 1950 próximo à sua cidade natal de Estella, Navarra, Espanha, tendo ajudado a criar diversos grupos de espeleologia e participado de diversas explorações importantes, como a da “Piedra de San Martín” (“Pierre de San Martin” para os franceses), na divisa entre Espanha e França. Na época, tornou-se a mais profunda cavidade já explorada.

Em 1988 veio participar como conferencista no I Congresso de Espeleologia de América Latina e do Caribe (CEALC), em Belo Horizonte, onde o conheci. Logo depois do Congresso, juntou-se à Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) para explorar diversas grutas no Itacolomi, em Ouro Preto/MG, e para a Gruta do Lapão em Lençóis, BA. Posteriormente retornou ao Brasil diversas vezes, onde participou de outras atividades espeleológicas.

Geólogo e Químico de formação, desenvolveu alguns dos mais importantes conceitos (muitas vezes polêmicos e outras vezes pouco compreendidos) da ciência espeleológica como:

- a comprovação em 1969, a partir de equações físico-químicas, da corrosão por mistura de águas de diferentes concentrações e de diferentes temperaturas (esta última uma novidade à época) e indicando maiores valores esperados de solubilidade a mais altas pressões, favorecendo a formação de sistemas de circulação profunda.

- o Princípio da Convergência de Formas (1973), onde constata a existência de um modelo natural em que os fatores controladores da carstificação são interrelacionados, mesmo em diferentes litologias, resultando na convergência das formas observadas no carste.

- o Método de Predição das Direções Principais de Drenagem do Carste, onde comprovou com inúmeras investigações em cavernas de diferentes litologias que as drenagens seguem as direções perpendiculares a Sigma3 (a direção das fraturas extensionais), sendo pouco importantes as demais como condicionantes estruturais.

- a constatação e a comprovação de que toda a energia liberada no degelo em cavernas glaciares é convertida em mais degelo, permanecendo a água de drenagem sempre a zero graus (conceito importantíssimo para os balanços de mudanças climáticas).

Atuou como presidente da UIS (União Internacional de Espeleologia) nos anos 80 e passou a dedicar as últimas décadas ao carste glaciar polar, quando em 2001 fundou junto a Carmen Domínguez, a associação GLACKMA (Glaciares, Criokarst e Meio Ambiente), com o objetivo de potenciar e divulgar essa área de conhecimento.

Foi Professor Titular da Cátedra de Hidrogeologia da Escola de Minas da Universidade Politécnica de Madri, o qual orientou dezenas de teses de graduação, mestrado e doutorado, e teve uma enorme influência em um sem-número de profissionais e pesquisadores com seu caráter forte e atitude instigadora.

Onde estiver, que tenha "buenas cuevas" para ele explorar e estudar...

Texto: Marcelo Taylor de Lima