Visita Técnica ao Vale do Ojô, Ouro Preto (MG)

1

A interação entre os seres humanos e os ambientes cársticos tiveram início com os nossos antepassados pré-históricos, que utilizavam as cavernas como refúgio das intemperes da natureza. Estes ambientes foram palco das primeiras relações humanas, como afirma Clayton Lino em “Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo”, de 1989:

“A história humana não pode ser contada sem referir-se às cavernas [...] Nas cavernas, o homem encontrou um de seus primeiros abrigos e seus mais antigos santuários, onde o profano e o sagrado podiam conviver integrados.”

Na medida em que foram desenvolvidas as primeiras edificações, estes ambientes passaram a ter outras relações com homem, sendo hoje locais de, principalmente, contemplação e aventura, além de estudos em diversos temas, seja através do meio acadêmico ou estudos ambientais.

Em paralelo a este avanço social dos meios de moradia, com ênfase na expansão das zonas urbanas, houve um crescimento expressivo do descarte de resíduos domésticos e industriais, que em alguns casos atingem ambientes cársticos. Na maioria das ocorrências, a contaminação é acompanhada de impactos que geram grande perturbação ambientais, em virtude dos danos estruturais e ecossistêmicos advindos dos resíduos estranhos a este ambiente.

A fim de analisar impactos sócio-ambientais em cavidades naturais subterrâneas, foi realizado no dia 28 de novembro de 2020, uma visita técnica da Sociedade Excursionista Espeleológica (SEE) à região do Vale do Ojô, localizado na zona urbana do município de Ouro Preto (MG), às margens do bairro Padre Faria. O local abriga três cavidades: Gruta Ponte de Pedra, Gruta do Fogão e Gruta da Aflição, cujos códigos de registro no Cadastro Nacional de Cavernas (CNC) da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) são, respectivamente, MG-1861 MG-1862 e MG-1863. Tais cavernas se desenvolvem nas margens e no leito do córrego do Funil, no contato litológico dos mármores dolomíticos da Formação Gandarela  na base, com itabiritos da Formação Cauê no topo, ambos do Grupo Itabira, Supergrupo Minas. Destaca-se no vale uma notável relevância hídrica pois representa uma das cabeceiras do rio do Carmo, que vem sofrendo impactos diretos do despejo de lixo e esgoto da comunidade adjacente. Conforme pode ser observado na foto 2, o esgoto (água acinzentada) sai pela entrada principal (jusante) da Gruta Ponte de Pedra após percorrer toda a sua extensão.

A visita contou com a participação do professor do Departamento de Engenharia Ambiental (DEAMB) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Dr. Alberto Fonseca e do produtor audiovisual, Fernando Costa. A expedição teve o objetivo de identificar os pontos mais críticos da poluição no local, a fim de traçar possíveis medidas de contenção. A iniciativa prevê a atuação da SEE, em parceria com a UFOP, na elaboração de um projeto acadêmico que visa caracterizar os impactos no Vale do Ojô e propor medidas de mitigação aos órgãos públicos competentes. Além disso, durante a atividade de campo foram coletadas imagens que irão compor uma série documentada pelo Prof. Alberto sobre a utilização dos recursos hídricos no município de Ouro Preto.

Por fim, fica registrado o descontentamento dos membros da SEE frente a atual situação do vale, e a esperança de que este seja o primeiro passo para a atenuação, ou até mesmo recuperação desta importante região cárstica.

Texto: José Mota Neto

Participantes: Alberto Fonseca, Fernando Costa, José Mota, Leandra Peixoto, Paulo Lima e Thiago Lucon