I Expedição do Projeto Livro e Documentário “As Grutas do Ibitipoca”

I Expedição: Livro “As Cavernas de Ibitipoca”

Por via do Termo de Compromisso de Compensação Espeleológica - TCCE, celebrado entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Vale S.A., tendo com gestão operacional o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (AIBS), a Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) irá produzir o livro “As Cavernas de Ibitipoca”, que contará com mapas espeleotopográficos inéditos, além de fotos e informações sobre a espeleologia do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB), contemplando também os temas sobre geologia, geomorfologia, hidrografia, geoespeleologia, bioespeleologia, e outros saberes deste rico patrimônio. Este livro pretende trazer para o público geral, informações sobre as principais cavernas do parque, revelando assim a singularidade desse território.

Em razão a este novo projeto, entre os dias 10 a 23 de abril, foi realizada a primeira etapa de campo, que contou com a participação de 19 membros da SEE. A expedição tinha como objetivo a exploração e topografia de duas cavidades: Gruta do Alonso e Gruta do Funil. Além disso, mais grutas foram levantadas como importantes para serem exploradas e mapeadas, como a Gruta dos Coelhos e Gruta do Tio Nelson.

A Gruta do Alonso já havia sido parcialmente explorada por membros da SEE e era de conhecimento a existência de dois acessos, um por meio de rapel em uma de suas dolinas no terço superior da vertente e outro por uma trilha passando no sopé da serra, por fora do parque. Apesar desta exploração inicial, a real dimensão e limites da gruta ainda eram desconhecidos.

Gruta do Funil foi descoberta durante o projeto da SEE intitulado “Cadastro e Avaliação dos Aspectos Espeleoturísticos do Parque Estadual do Ibitipoca, MG”, em que foi realizado o levantamento do potencial espeleoturístico, além da descoberta de 27 novas cavidades, como foi o caso da Gruta do Funil, onde foram descobertas duas dolinas próximas entre si, com cerca de 50 metros, nomeadas de Funil 1 e de Funil 2, visto que até então não se sabia se que seriam conectadas internamente.

A Gruta dos Coelhos por sua vez, é a caverna mais visitada pelos turistas do parque devido a sua proximidade com a estrada (cerca de 20 metros). A SEE não tinha mapa próprio da gruta, apesar dela já ter sido mapeada três vezes. O primeiro mapa foi elaborado em 2004 pelo Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, o segundo foi feito em 2009 pelo Meandros Espeleo Grupo junto com o Grupo Pierre Martin de Espeleologia e o último em 2017, elaborado pelo Grupo de Espeleologia Laje Seca utilizando parte do mapa do Bambuí, durante o projeto Ibitiproca.

Na segunda-feira, 10 de abril, 16 membros SEE se reuniram em frente ao Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas e deram partida rumo ao PEIB com carros próprios e alugados cheios de equipamentos e transbordando espírito aventureiro científico. Para os membros novatos era a oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante os nivelamentos de espeleotopografia, que normalmente são realizados nas cavidades do Parque Municipal das Andorinhas, em Ouro Preto.

No primeiro dia de topografia os integrantes foram divididos em três equipes, sendo uma equipe de vertical que iria acessar e topografar a Gruta do Alonso, e as outras duas equipes se dedicaram a explorar e topografar a Gruta do Funil. Embora as equipes tenham sido divididas, todos iniciaram o dia caminhando juntos, visto que o caminho de acesso conhecido para ambas as grutas se tratava da subida até o Pico da Cruz.

Na Gruta do Alonso a equipe de vertical se dividiu, uma parte acessou a cavidade pela sua primeira dolina por meio de um rapel de aproximadamente 40 metros, e a outra parte forçou um acesso pelas matas e pirambeiras, na busca de um caminho mais acessível para a entrada principal. Todas as equipes obtiveram êxito no planejamento nesse primeiro dia, a equipe da Alonso conseguiu acessar a entrada principal por uma nova trilha, sem a necessidade do uso de técnicas verticais e encontrou com o restante da equipe no fundo da dolina do rapel, iniciando também a topografia.

As equipes que foram para a Gruta do Funil exploraram os condutos e confirmaram que as grutas Funil 1 e Funil 2 se tratavam de uma única caverna. Iniciaram a topografia e retornaram com a certeza de estarem diante de uma grande caverna, com condutos largos e amplos, com várias entradas, estimando um desenvolvimento de aproximadamente 800 metros.

No dia seguinte uma das equipes da Gruta do Funil conseguiu encontrar um acesso mais fácil, evitando a subida até o Pico da Cruz, adentrando a gruta pela parte baixa da vertente, assim como a Gruta do Alonso, a Gruta do Funil também apresenta entradas no terço superior e na meia encosta da vertente. Ao final desse dia, com mais algumas centenas de metros topografados e explorados tanto na Gruta do Funil quanto na Alonso, tornou-se evidente que seriam necessários mais dias de dedicação a estas cavernas, visto que a topografia seguia expandindo. Na Gruta Alonso, os condutos que pareciam fechar, acabavam resultando em novos salões e até claraboias. Assim, os demais objetivos (Gruta dos Coelhos e Gruta do Tio Nelson) foram postergados para quando uma das duas grutas já estivesse finalizada.

Os sete dias sequentes foram dedicados exclusivamente as grutas Funil e Alonso, retirando apenas o domingo que foi utilizado para descanso e recuperação, em que alguns membros aproveitaram para conhecer as Grutas Martimiano II (maior em quartzito do Brasil) e a Gruta das Casas, enquanto outros foram para as Grutas Moreiras e Três Arcos.

No dia 19 de abril, parte dos membros retornaram a Ouro Preto, o que reduziu o rendimento da topografia. Para contornar esta situação, a equipe da Gruta Funil foi dividida entre Gruta Alonso e Gruta dos Coelhos. Nesta etapa, a Gruta Alonso já tinha seus principais condutos registrados e suas ramificações eram pouco promissoras na topografia, já a Gruta do Funil estava praticamente finalizada, restando apenas dois condutos estreitos. A equipe que foi para a Gruta dos Coelhos iniciou o trabalho de topografia e ao final do dia executou a exploração na sua parte mais distal, onde havia um fluxo d’água que seguia por estreitos condutos em direção a Gruta do Tio Nelson, que por sua vez, não faz parte do circuito turístico do Parque. Este fluxo d’água aguçou a curiosidade dos membros da equipe para a possibilidade daquelas cavidades serem, na verdade, apenas uma. Com isso, a Gruta dos Coelhos teve seu desenvolvimento expandido, confirmando que se tratava de uma única caverna, adicionando cerca de 50 metros em comparação aos mapas anteriores.

Nos últimos dias, uma das ramificações que não era tão promissora e estava na região da entrada principal da Gruta Alonso se revelou uma grande surpresa, surgindo outras ramificações, condutos e inúmeros pilares, deixando claro que a conclusão da Gruta do Alonso nessa expedição já não era mais uma certeza. Por outro lado, a Gruta dos Coelhos foi conectada com a Gruta do Tio Nelson, e teve todos os seus condutos contemplados pelo mapeamento. Devido a isto, a Gruta do Tio Nelson foi assassinada e incorporada à Gruta dos Coelhos, que agora detém cerca de 300 metros de condutos subterrâneos.

No domingo, 23 de abril, os membros SEE restantes organizaram seus produtos científicos, equipamentos e pertences pessoais e pegaram estrada. Passaram por Conceição de Ibitipoca e zeraram os estoques de “pão de canela” dos estabelecimentos desta bucólica vila, em seguida seguiram rumo a Ouro Preto.

Ao fim, três mapas espeleotopográficos foram realizados, dois deles finalizados (Gruta do Funil e Gruta dos Coelhos), restando ainda alguns condutos da Gruta Alonso. Apesar disto, o objetivo da expedição foi considerado como atingido, dado que os conhecimentos espeleológicos do PEIB foram ampliados, com a realização de mais três mapas para serem apresentados no livro “Cavernas de Ibitipoca”.

Além dos objetivos alcançados, alguns pontos merecem uma comemoração especial. Em primeiro lugar, a sócia espeleóloga Lívia Tessarolo retornou oficialmente às atividades de campo da SEE, após um grave acidente ocorrido durante a topografia da Gruta do Bocão, também no PEIB, em março de 2022. Lívia retornou com força total e a dedicação de sempre. Ela pôde agradecer pessoalmente a todos os funcionários e colaboradores de Ibitipoca que contribuíram para o seu resgate, que ocorreu de forma eficiente, contribuindo com sua rápida recuperação. Comemoramos também as primeiras topografias dos novos membros da SEE, formando assim novos espeleólogos que mantêm a chama acessa e enriquecem o conhecimento da entidade em diferentes áreas, por meio das experiências e vivências de seus membros.

A SEE agradece à gerência do PEIB e aos seus funcionários e colaboradores, por todo auxílio e parceria contínua. A realização desta pesquisa contou com o forte apoio deles, através da disponibilização de alojamentos e, quando possível, transporte 4x4 para as cavidades mais distantes, além da orientação aos acessos às cavernas e conversas enriquecedoras sobre o histórico popular nelas. Por fim, os atuais membros da SEE agradecem também à presença e colaboração dos sócios veteranos Lorena (Dislaia), Taylor e Rafael (Vaca), que estiveram presentes em momentos chaves.

 

Participantes: Abraão Castro, Alexandre dos Reis (Xandão), Ana Eliza Medeiros (BDF), Beatriz Pires (Bia), Deyvid S. Sampaio (Maçaneta), Gabriel Lourenço (Bob), Joaquim Junior (Joca), Leandra Peixoto, Lívia Tessarolo, Lucas Soraggi (Flash), Luís Miguel Rocha, Lorena Oliveira (Dislalia), Maira Mendes, Marcelo Taylor, Maria Isidora Rodrigues (Zizi), Paulo Eduardo Lima (Tinganei), Rafael Costa (Vaca), Rafael Oliveira, Tiago Vilaça Bastos (Fox).

Autores: Beatriz Pires (Bia), Deyvid Sampaio (Maçaneta) e Tiago Vilaça Bastos (Fox).

Fotos: Beatriz Pires (Bia), Marcelo Taylor, Rafael Costa (Vaca) e Tiago Vilaça Bastos (Fox).

TCCE ICMBio/Vale

Vale ICMBio CECAV IABS