O avanço da espeleologia brasileira e a necessidade de compreender as dimensões desse patrimônio têm proporcionado passos importantes para os integrantes da Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE). A partir de medidas compensatórias referentes a impactos negativos irreversíveis em cavidades naturais subterrâneas, a Anglo American Minério de Ferro Brasil S.A. e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) firmaram com a entidade ouro-pretana o Projeto de Caracterização do Patrimônio Espeleológico do Parque Nacional das Sempre-Vivas (PNSV).
Durante o mês de janeiro, entre os dias 10 e 24, doze espeleólogos participaram da primeira etapa de campo do projeto com o objetivo de identificar os principais elementos do relevo com potencial para a ocorrência de cavidades, na porção centro-sul da Unidade de Conservação (UC) que envolve os municípios de Diamantina, Bocaiúva, Olhos d’Água e Buenópolis em Minas Gerais. A prospecção de potenciais espeleológicos foi guiada por mapas hipsométricos, hidrológicos e imagens de satélite, em áreas previamente selecionadas por análise visual, elaborados durante a etapa de pré-campo.
O grupo identificou um total de 98 feições espeleológicas durante a primeira campanha de prospecção, onde 67 correspondem a cavernas, 24 a abrigos e 6 a abismos.As cavidades apresentam pequena ocorrência de espeleotemas, representados principalmente por coraloides, escorrimentos e raras estalactites. Além disso, um fator de grande importância foi a catalogação de vestígios arqueológicos encontrados, sendo que, dentre os 24 abrigos cadastrados, 5 apresentaram pinturas rupestres e 3 continham possíveis materiais líticos. Apesar da litologia observada ser formada predominantemente por quartzitos, rocha que dificulta os processos de dissolução e carstificação, o resultado obtido foi satisfatório e promissor.
Além da identificação das feições citadas, foi possível estimar o planejamento das próximas expedições ao parque em função das dificuldades encontradas. A proposta inicial da campanha foi realizar a prospecção de uma área com 324,74 km² na porção centro-sul da UC, entretanto não foi possível cobrir completamente a quadrícula estabelecida por conta das dificuldades de deslocamento no interior do parque, que conta com poucas estradas de terra em condições precárias ou desativadas. Outro fator limitante, foram as condições de acesso aos maciços, que representam os principais alvos de prospecção e são cercados por depósitos de tálus com dimensões expressivas, apresentam alta variação de cota e são separados por grandes planícies cobertas por vegetação densa.
A SEE deixa seu agradecimento especial aos funcionários do PNSV e do ICMBio que estavam presentes na expedição e se mostraram fundamentais para a realização da campanha, conduzindo o grupo em algumas investidas e compartilhando conhecimentos sobre a região além de demonstrar estratégias para tornar as estradas mais acessíveis. A entidade também agradece aos parceiros que possibilitaram a realização do projeto, à gestora do PNSV Paula Ferreira pelo suporte e à Edilene Pacheco por todo carinho e cuidado com os integrantes.
Participantes: Caio Tavares, Gabriel Amora, Gabriel Lourenço, Guilherme Augusto, Guilherme Ribas, Isaac Rudnitzki, José Mota, Lara Guerra, Mikhaela Alderete, Marcos Araújo, Paulo Lima, Ricardo Couto.
Fotos: Gabriel Lourenço