Entre os dias 31 de agosto e 08 de setembro de 2024, a Seção de Espeleorresgate da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SER/SBE) realizou mais uma edição do Curso Nacional de Espeleorresgate 2024 (CNE 2024), desta vez em Bonito, Mato Grosso do Sul. De forma inédita, o curso foi sediado nesse estado, com o objetivo de expandir formação e aprimoramento de técnicas de espeleorresgate por todo o território nacional.
Bonito é conhecida por suas cavernas deslumbrantes e por ser um dos principais destinos para espeleomergulho no Brasil. Considerada patrimônio espeleológico nacional pela Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV) e pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a região abriga o Parque Nacional da Serra da Bodoquena (PNSBd) e diversos atrativos turísticos localizados em propriedades particulares.
O Curso 2024 contou com 62 participantes, incluindo alunos e membros da SER. Entre os alunos, estavam espeleólogos de diferentes regiões do Brasil, membros do Corpo de Bombeiros de diferentes estados, profissionais do trabalho industrial em altura, escaladores profissionais, um médico e outros interessados no tema. A Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) marcou presença com cinco membros, reforçando o compromisso da entidade com as práticas e capacitações em segurança.
O curso foi dividido em duas modalidades: o Curso Nacional de Espeleorresgate (CNE 2024) e o Curso Avançado em Espeleorresgate. A SEE esteve representada em ambas as modalidades. O Curso Nacional ofereceu uma carga horária de 87 horas, distribuídas entre aulas teóricas e práticas em um intenso cronograma de oito dias. Os dois primeiros dias foram dedicados a aulas teóricas, seguidos por aulas práticas, realizadas inicialmente na cidade e depois intercalando com o ambiente cavernícola. As cavernas América e Pitangueiras foram palco dos campos iniciais, enquanto os pré-simulados ocorreram nas cavernas Cinco de Ouros e Benedita, culminando no simulado final na caverna Dente de Cão. Todas essas cavidades naturais não são abertas ao turismo e foram acessadas neste contexto mediante autorização prática dos proprietários das áreas privadas que dão acesso às elas.
O conteúdo programático do curso é fundamentado nas técnicas de formação do Spéléo Secours Français, a comissão regional de socorro vinculada à Federação Francesa de Espeleorresgate. Foram abordados temas relacionados à Fase de Acionamento e Operação de Resgate. A Fase de Acionamento inclui o levantamento de informações acerca do acidente, o atendimento à vítima e o acionamento do resgate. Já a Fase de Operação de Resgate, que compreende uma série de procedimentos organizados por funções: Assistência e Socorro à Vítima (ASV), Comunicação, Desobstrução, Equipe Técnica, Equipe de Evacuação. Em caso de resgate em cavernas inundadas, uma equipe de resgate subaquático é mobilizada.
Além das especialidades já mencionadas, também foram abordados os temas de desobstrução, mergulho em cavernas, sistemas de bombeamento e ventilação, sendo algumas indispensáveis para qualquer operação de resgate e outras específicas para determinadas situações.
As equipes desempenham papéis específicos, sempre havendo um chefe de equipe que lidera e delega funções aos demais resgatistas. Além disso, há o coordenador geral da operação, o qual recebe o nome de Conselheiro Técnico (CT), responsável por gerenciar toda a missão a partir de um local determinado, denominado Posto de Comando. No posto de comando, o CT conta com a equipe de gestão para estabelecer, anotar e gerir todas as informações obtidas durante a operação de resgate.
O domínio das técnicas de espeleovertical são fundamentais para obter maior desenvolvimento e êxito nas atividades que envolvem acesso por cordas, sendo uma questão de segurança, tanto para o corpo docente como para os alunos, visto que as práticas em caverna são constantes durante o curso. Em geral, as técnicas envolvem o domínio de progressão e descensão por corda, bem como a montagem de sistemas de evacuação, tanto verticais como horizontais.
Os cursos avançados priorizam vagas para resgatistas regionais (Mato Grosso do Sul), resgatistas que já haviam concluído o curso SER/SBE Nacional, instrutores estagiários e ou monitores em formação para compor o corpo docente. As especialidades oferecidas incluíram Gestão de Resgate em Cavernas, Comunicação sob a terra em Espeleorresgate e ASV (Assistência e Socorro à Vítima), explorando minuciosamente as técnicas aplicadas em cada área, visto que o resgate subterrâneo exige profissionais com conhecimento em diversas especialidades.
Durante o Simulado Final do Curso, momento onde todos os participantes trabalham juntos, o membro SEE Tiago Vilaça (Fox) foi convocado para atuar como Conselheiro Técnico, aplicando os conhecimentos teóricos adquiridos no curso de Gestão. Da mesma forma, a Priscila Gambi foi designada pelo Tiago Vilaça como Chefe de Equipe (CE) na equipe de ASV, enquanto os membros do Curso Nacional, Beatriz Pires e Giulio Pacheco foram designados para a equipe de Evacuação, e Maira Mendes para a Técnica.
Atualmente, a sede da SEE conta com um almoxarifado de equipamentos da SER Sudeste, destinado a atender ocorrências de acidentes em cavernas em toda a região. O membro Tiago Vilaça (Fox) atua como Conselheiro Técnico Departamental, posição que torna ainda mais valiosa a experiência adquirida em suas formações e atividades, reforçando a capacidade de resposta em situações de emergência.
A SEE agradece à SER/SBE, aos instrutores e monitores pelo curso e incentivo contínuo, ao espeleogrupo GESB (Grupo de Espeleologia Serra da Bodoquena) por propiciar o curso no carste de Bonito, à Secretaria de Turismo de Bonito por contribuir com a viabilização do curso e a todos os demais espeleogrupos: EGB, EGRIC, Manduri, e alunos que, juntos, contribuíram com sucesso para a realização de mais uma edição do Curso Nacional de Espeleorresgate. A capacitação de mais espeleorresgatistas no território brasileiro é o feito que mantém a chama acesa na prevenção e segurança na espeleologia nacional.
Participantes SEE Curso Nacional: Beatriz Pires, Giulio Pacheco e Maira Mendes.
Participantes SEE Curso Avançado: Tiago Vilaça (Gestão de Resgate em Cavernas) e Priscila Gambi (ASV).
Espeleogrupos Participantes: EGB, EGRIC, GESB, Manduri, SEE.
Texto: Priscila Gambi e Maira Mendes.
Revisão: Giulio Pacheco e Beatriz Pires.