Homenagem a Adolfo Eraso Romero: Espeleólogo e amigo espanhol da SEE

Maio 31, 2021

homenagem

Com profunda tristeza, comunicamos o falecimento do grande espeleólogo e amigo espanhol Adolfo Eraso Romero, ocorrido no dia 29 de maio de 2021, em Plasencia, Espanha, aos 86 anos.

Adolfo Eraso iniciou sua trajetória na espeleologia nos anos 1950 próximo à sua cidade natal de Estella, Navarra, Espanha. Contribuiu para a criação de diversos grupos de espeleologia e participado de diversas explorações importantes, como a da “Piedra de San Martín” (“Pierre de San Martin” para os franceses), na divisa entre Espanha e França. Na época, essa se tornou a mais profunda cavidade já explorada.

Em 1988, Adolfo esteve no Brasil como conferencista no I Congresso de Espeleologia de América Latina e do Caribe (CEALC), em Belo Horizonte, onde o conheci. Logo depois do Congresso, juntou-se à Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) para explorar diversas grutas no Itacolomi, em Ouro Preto/MG, e para a Gruta do Lapão em Lençóis, BA. Posteriormente retornou ao Brasil diversas vezes, onde participou de outras atividades espeleológicas.

Geólogo e Químico de formação, desenvolveu alguns dos mais importantes conceitos (muitas vezes polêmicos e outras vezes pouco compreendidos) da ciência espeleológica como:

  • Corrosão por mistura de águas: Em 1969, demonstrou, por meio de equações físico-químicas, os efeitos da corrosão pela mistura de águas com diferentes concentrações e temperaturas, incorporando também a influência da pressão na formação de sistemas de circulação profunda.
  • Princípio da Convergência de Formas (1973): Identificou um modelo natural em que os fatores controladores da carstificação são interrelacionados, resultando em formas similares mesmo em diferentes litologias.
  • Predição das Direções Principais de Drenagem do Carste: Comprovou que as drenagens seguem direções perpendiculares a Sigma3, destacando as fraturas extensionais como principais condicionantes estruturais.
  • Degelo em cavernas glaciares: Demonstrou que toda a energia liberada no degelo em cavernas glaciais contribui para mais degelo, mantendo a água de drenagem a zero graus Celsius, um conceito essencial para estudos de mudanças climáticas.

Adolfo foi presidente da UIS (União Internacional de Espeleologia) nos anos 1980 e, a partir de 2001, dedicou-se aos estudos do carste glaciar polar. Nesse contexto, fundou, junto a Carmen Domínguez, a associação GLACKMA (Glaciares, Criokarst e Meio Ambiente), que promoveu avanços significativos no entendimento desse tema.

Como Professor Titular da Cátedra de Hidrogeologia da Escola de Minas da Universidade Politécnica de Madri, orientou dezenas de teses de graduação, mestrado e doutorado, e teve uma enorme influência em um sem-número de profissionais e pesquisadores com seu caráter forte e atitude instigadora.

Onde estiver, que tenha "buenas cuevas" para ele explorar e estudar...

 

Texto: Marcelo Taylor de Lima