No dia 21 de outubro de 2020, a comunidade espeleológica brasileira foi tomada por um profundo sentimento de perda com a notícia do falecimento do Sr. Mário Corbani Filho. Espeleólogo e fotógrafo, Corbani marcou de forma honrosa a história da Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE).
Conhecido por sua sensibilidade em capturar a beleza do mundo subterrâneo, seu espírito corajoso e seu humor único, Corbani contribuiu significativamente para a entidade, integrando diversas vezes a diretoria, incluindo a presidência na gestão de 1977/1978. Os relatos dos(as) companheiros(as) de sua época expressam de forma emocionante sua jornada e contribuições tanto para a entidade quanto para a espeleologia brasileira.
Billy Von Krüger compartilha:
"Mário Corbani foi um amigo disponível e interessado em ajudar as pessoas em qualquer aventura radical. Muito calmo e sempre firme nas ações e atitudes. Estive com ele em muitas das excursões que havia bastante adrenalina para nós - enquanto para ele era só mais um desafio a ser cumprido. Possuía um conhecimento profundo na obturação de um diafragma, além de uma sensibilidade fotográfica impressionante, sempre nos presenteando com brilhantes capturas. Possuía uma resistência física impressionante que traduzia ao grupo muita segurança na escolha de desafios.
Vivi com ele um fato inusitado, quando descemos o Véu da Noiva, na Cachoeira das Andorinhas, usando as escadas de “corda” (cabo de aço e travessas de alumínio) da SEE.
Chegamos os dois em baixo, e estávamos explorando o curso d’água quando ele se abaixou e pegou um camarão de água doce. Isso mesmo! Um camarão na nascente do Rio das Velhas! Fiquei assombrado com a descoberta, o que iria trazer uma importante informação científica para o lugar. Quando estávamos saudando a descoberta, ele jogou o camarão na boca e o comeu. Fiquei atônito e indaguei sobre o porquê dele comer aquela descoberta científica. Ele me retornou, sem qualquer assombro, me dizendo que adorava camarões frescos. Coisa típica do Mario Corbani!
No acidente com o 101, na Plataforma Ferroviária de Hargreaves, ele precisou se afastar, quando verificamos que havia sangue na sua cabeça, pois tinha uma fraqueza com a presença de sangue nos companheiros. Se era nele o ferimento, isso não o impressionava, agia normalmente, sob as nossas preocupações.
Outro fato inusitado foi quando ainda morador de Jacareí, acordou, preparou suas coisas e sem avisar para ninguém, viajou para o litoral. Chegando à praia, resolveu ir até Ilha Bela a nado. Embrulhou sua matula e nadou sozinho até a ilha. Passou o dia lá, retornando, também a nado, no final do dia até a cidade e depois, voltou a Jacareí. Na sua casa, nenhuma surpresa ao chegar e contar que havia saído para o litoral. Fiquei indignado com esse caso, pois, qualquer situação adversa que por ventura acontecesse com ele na travessia, ninguém saberia do seu paradeiro. Esse era para mim o maior atestado de coragem e autoconfiança!
Graças a isso, sempre foi um integrante primordial nas excursões. Vai deixar um lugar vago entre nós, porém com muita admiração e respeito à sua trajetória aqui conosco!”
Ângela Maria Pimenta recorda com carinho:
"Creio que o Mário Corbani foi da minha turma em 1974. Durante o mapeamento do Complexo Cárstico do Parque do Peruaçu, trabalhamos juntos na SEE e nos divertimos muito, porque o Mário além de fotógrafo primoroso também tinha um humor inteligente.”
Marcelo Taylor destaca a importância histórica das contribuições de Corbani:
"Lembro que foi exatamente devido aos estudos e descobertas da geração do Mário que se conheceu o Peruaçu. E que, muitos anos depois seria decretado como Parque Nacional. Mais um relevante serviço da Spé ao país.”
A SEE expressa sua solidariedade aos amigos e familiares, especialmente ao seu filho Bernardo Corbani, também antigo membro da entidade. Mário Corbani Filho deixa um legado inesquecível para a espeleologia brasileira e será sempre lembrado com admiração e respeito.
Viva a Mário Corbani Filho!
Texto: Alice Mendes e Saulo Silva
