75 Anos da Sociedade Excursionista e Espeleológica

Outubro 12, 2012

 

a

MANTENDO A CHAMA ACESA!

O misterioso universo subterrâneo é carregado pelo seu silêncio milenar, com galerias esculpidas pacientemente pelas mãos da artesã natureza, ornamentadas pelas águas percolantes que “do teto de umas poreja, solta do tempo, [...] minando sem fim num gotejo, que vira pedra no ar, se endurece e perdura, por toda a vida [...] enquanto do chão sobem outras, como crescidos dentes, como que aquelas sejam goelas da terra” (O recado do morro, João Guimarães Rosa). Lugar que fascina a imaginação humana por ostentar mistérios que almejamos desvendar, onde há de se combater a cegueira natural nos fazendo portadores da luz a fim de vislumbrar as silhuetas de pedra. Evocam santuários, cujo tempo fóssil nos recorda coisas que os vivos não viram.

Esse patrimônio do planeta é guardião de uma riqueza a ser protegida pela humanidade, como pioneiramente Édouard-Alfred Martel o fez. Seguindo os seus passos, incentivados por correspondências trocadas com o então presidente da Société Spéléologique de France, Sr. Robert de Joly, em 1937, os jovens estudantes da então Escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, Victor Dequech, Walter Von Krüger, Paulo Anníbal M. de Almeida Rolff, Lisanel de Melo Motta, Murilo de Andrade Abreu e Sandoval C. de Almeida, resolveram se dedicar ao ramo das Ciências Naturais, que se ocupa do estudo e da preservação desse estranho mundo das cavernas. Instituíram, por isso, a Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE), de cognome Spé, na vanguarda pan-americana da Espeleologia.

Sempre trabalhando com entusiasmo, as sucessivas gerações de membros dessa Sociedade realizaram inúmeras expedições pelo território brasileiro desde aquela primeira, em 1938, às grutas dos municípios de Matozinhos, Bom Jardim, Peri-peri e Cordisburgo, em Minas Gerais.

Ainda que houvesse uma série de dificuldades técnicas, configuradas na escassez de equipamentos e na precariedade de transporte, o empenho do grupo possibilitou a permanência e regularidade em sua atuação em nível nacional. Logo, esteve presente em muitas descobertas de grandes cavernas brasileiras, contribuindo com a delimitação e preservação de sítios arqueológicos e paleontológicos e mapeando grutas importantes no cenário nacional.

Colabora incessantemente na realização dos cursos, encontros e congressos espeleológicos, além de participar de diversos projetos conveniados a diversas outras entidades. Desta forma, além de ter participado da fundação da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), é responsável pela publicação da revista Espeleologia, tendo sido a primeira dedicada a este ramo no Brasil.

Detém em seu acervo ampla gama de documentos históricos, armazenando cadernetas e relatos de expedições, mapas e livros antigos, além de um significativo acervo fotográfico. Pretendendo a preservação dos sítios espeleológicos; a criação de um centro de estudos para desenvolver e divulgar a pesquisa científica da espeleologia como também os estudos interdisciplinares relacionados; além de desenvolver e divulgar uma maior conscientização educacional e cultural do meio ambiente e sua preservação.

Assim, ao longo dos anos a sociedade trabalha com diversos projetos pelas províncias espeleológicas nacionais, a fim de introduzir seus membros aos diversos ambientes cársticos, aprimorando a qualidade do seu corpo técnico. Desenvolve, por isso, atividades de prospecção, caracterização e mapeamento espeleológicos, agregando informações quanto à hidrologia, biologia, arqueologia, paleontologia e geologia locais.

Desde sua fundação, esta entidade esteve acolhida pela Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, fato que possibilita a renovação constante do seu quadro de membros, sendo constituída majoritariamente por estudantes deste instituto.

É com imenso orgulho que os sócios da Spé prosseguem na missão que visa à preservação dessa herança que a natureza nos legou, trabalhando na continuidade da exploração e dos estudos dessas manifestações naturais que, visionariamente, os diversos espeleólogos do mundo trabalham para proteger. Nossa sincera gratidão a todos que colaboraram com a entidade para que pudéssemos contribuir ativamente ao longo destes setenta e cinco anos com a evolução dessa nobre ciência. É com espirito comemorativo, consciência e empolgação que nos empenhamos na divulgação e preservação do universo subterrâneo.

 

Texto: Atuais membros, 2012