Patrimônio Espeleológico da Serra de São José

REVSLSJ

A Serra de São José está localizada na região centro-sul de Minas Gerais, abrangendo territórios pertencentes aos municípios de Coronel Xavier Chaves, Prados, São João dei Rei, Santa Cruz de Minas e Tiradentes, em Minas Gerais. Nela estão presentes um mosaico de Unidades de Conservação, a Área de Proteção Ambiental São José (APASJ) e o Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José (REVSLSJ), abrangendo uma área total de 8.497 hectares. A Serra de São José desempenha um papel crucial na hidrologia regional, atuando como divisor de águas entre duas sub-bacias da bacia do Rio das Mortes, um dos afluentes do Rio Grande, que por sua vez é um dos afluentes do Rio Paraná.

Estudos preliminares destacam o considerável potencial espeleológico da região, desenvolvida em rochas quartzíticas fraturadas, que se somam às diversas drenagens superficiais, favorecendo o desenvolvimento de sistemas de cavernas. Embora muitas das cavernas identificadas ainda não estejam registradas em bancos de dados espeleológicos, os estudos indicam a existência de 31 cavernas na região Norte/Nordeste da Serra. Esta região localiza-se nas imediações do setor conhecido como “Serra Nova” , onde ocorre um sistema de cavernas já catalogadas nos bancos de dados, com destaques como a Lapa do Jair, Caverna do Canhão e a Caverna do Galo, esta última abrigando um destacado pacote sedimentar. Nestas cavernas, estudos sobre morcegos identificaram a presença de de diversas espécies pertencentes às famílias Phyllostomidae e Vespertilionidae, concluindo que as cavernas das UCs em questão podem atuar como importantes abrigos destes animais, os quais desempenham importantes papeis ecológicos para o funcionamento dos ecossistemas.

A importância histórica e arqueológica da região também é evidente. Na Serra de São José, especificamente no município de Prados - MG, já foram feitas descobertas arqueológicas importantes, como peças de cerâmicas e artefatos humanos, sugerindo um rico potencial para estudos arqueológicos nas cavernas.

Reconhecendo a importância do potencial científico devido às espécies endêmicas, sistemas hidrológicos complexos e grandes dimensões espeleométricas desta região, em 2023, foi elaborado um projeto multidisciplinar, o qual foi selecionado no edital Sistema de Gestão de Projetos Espeleológicos (Pró - Espeleo) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e está sendo implementado no primeiro semestre de 2024. O edital compreende parte do Termo de Compromisso de Compensação Espeleológica - TCCE 01/2022 entre o ICMBio e a Vale S.A., sendo esta a fonte do financiamento que tem como gestão operacional o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS). A elaboração e execução dos trabalhos, sob gestão do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e da gerencia da UC, serão realizados em parceria com o Vertentes Espeleogrupo da Universidade Federal de São João del Rei (VEG/UFSJ), a Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE/UFOP), o Centro de Estudos em Biologia Subterrânea da Universidade Federal de Lavras (CEBS/UFLA) e a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM - Campus Diamantina).

O projeto visa pesquisar, conhecer e divulgar o conhecimento do patrimônio espeleológico das Unidades de Conservação que abrigam a Serra de São José e REVIS, e será realizado em diferentes etapas durante seu cronograma de execução. As atividades incluirão prospecção espeleológica, mapeamento espeleotopográfico, cadastramento das feições encontradas, identificação de pacotes sedimentares e estudos da fauna cavernícola. Também será produzido material audiovisual para ações de divulgação do patrimônio espeleológico da região. Os resultados serão compartilhados por meio de relatórios, artigos científicos e resumos de congressos e o cadastro das cavernas nos banco de dados espeleológicos oficiais (CANIE/CECAV e CNC/SBE). Além disso, o projeto visa fortalecer a relação entre o órgão gestor das Unidades de Conservação e as universidades parceiras, fortalecendo a melhoria da gestão do Patrimônio. Os resultados obtidos fornecerão uma base científica para demonstrar a importância das cavernas e auxiliar na elaboração do plano de manejo das unidades de conservação, além de servir como base para futuros estudos e estratégias de conservação.

A SEE agradece a todos ai IEF pela parceria contínua e aos grupos espeleológicos e Universidades parceiras: VEG/UFSJ, CEBS/UFLA e UFVJM.

 

Autoria do Texto: Beatriz Pires e Rafael Cardoso, 18 de abril de 2024.

 

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