Projeto Livro e Documentário “As Grutas do Ibitipoca”

Ibitipoca

O Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB) é uma unidade de conservação estadual localizada na região sudoeste do estado de Minas Gerais, criada em 04 de julho de 1973. O PEIB, também conhecido como Serra do Ibitipoca, localiza-se na região de planejamento do Estado definida como “Zona da Mata”, entre os municípios de Lima Duarte, Santa Rita de Ibitipoca e Bias Fortes, com uma extensão territorial de 1.665 hectares, apresentando a maior porção no município de Lima Duarte (Silva, D. N. l.; Martins, V. O.; Lima, M. T.; Silva, C. N. l.,2023). Atualmente, este é um dos Parques Estaduais mais visitados em Minas Gerais, sendo também admirado em todo o território nacional.

A expressão “Ibitipoca” tem origem indígena, em tupi-guarani, significando “ibi” (pedra) e “oca” (casa), podendo significar “casa de pedra“, provavelmente associado ao relevo da Serra, que se destaca na paisagem pela sua formação quartzítica permeada por cursos d’água, cânions e grutas. A Serra do Ibitipoca é uma ramificação da Serra da Mantiqueira, em sentido paralelo à Serra do Mar, constituindo-se em uma elevação com altitudes variando entre 1.200 e 1.784m (Pico da Lombada), atuando como um divisor das águas das bacias dos rios Grande e Paraíba do Sul. Na área do parque, predomina-se uma vegetação de campos de altitude com forte influência na flora de elementos da Floresta Atlântica (Minas Gerais, 2007).

Nessa serra, encontra-se a maior concentração de grutas em quartzito do Brasil (Rubbioli et al., 2019), com exemplares notáveis e únicos de feições cársticas nessa litologia. Destacam-se a Gruta Martimiano II, maior caverna em quartzito do Brasil, com 4.170m de desenvolvimento linear, e outras grutas como a Gruta das Bromélias, a Gruta dos Moreiras, a Gruta Manequinho e a Gruta das Casas, que juntas somam cerca de 10 quilômetros de desenvolvimento linear mapeados. Estas grutas reforçam a necessidade de proteção e divulgação, além de abrigarem uma rica biodiversidade subterrânea, como a espécie troglóbia Palpibradi (Arachnida), descrita pela primeira vez na Gruta das Casas (Souza, M. F. V. R; Ferreira, R. L,2019). Dessa forma, o patrimônio espeleológico da Serra do Ibitipoca apresenta importância nacional e mundial, pelas suas características e também pelos seus valores científicos, educacionais, ambientais, turísticos e sociais.

O Parque Estadual do Ibitipoca é palco de pesquisas espeleológicas pela Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) há cerca de 10 anos. Em 2014, a SEE foi convidada pela Sociedade Carioca de Pesquisas Espeleológicas (SPEC) para o mapeamento de grutas com o objetivo de atender às necessidades de estudos para elaboração de um Plano de Manejo Espeleológico. A partir disso, surgiu o projeto denominado “As Cavernas do Ibitipoca”, cujo produto foi um catálogo de mapas espeleométricos com coordenadas geográficas e caracterizações geoespeleológicas. Passados alguns anos de coletas de dados, em 2018 a SEE deu início ao projeto “Cadastro e Avaliação dos Aspectos Espeleoturísticos do Parque Estadual do Ibitipoca” e conseguiu recursos pelo Programa Nacional de Conservação do Patrimônio Espeleológico (PNCPE) do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/CECAV) via Termo de Compromisso de Compensação Espeleológica – TCCE 02/2018 entre o ICMBio e a Anglo American Minério de Ferro Brasil. Durante o período deste projeto, que ficou conhecido como “IBITITUR”, foram realizadas pesquisas em diversos ramos da espeleologia: prospecção, mapeamento, geoespeleologia e bioespeleologia, resultando no cadastro de novas grutas e, também, um amplo registro fotográfico deste patrimônio. Assim, em 2023, a SEE, com objetivo de consolidar todos esses dados para a ampla difusão do conhecimento gerado, elabora o projeto o Livro e Documentário Grutas do Ibitipoca, que por sua vez é selecionado pelo Sistema de Gestão de Projetos Espeleológicos (Pró - Espeleo) do ICMBio/CECAV para implementação do PNCPE, obtendo como fonte de financiamento o Termo de Compromisso de Compensação Espeleológica - TCCE 01/2022 entre o ICMBio e a Vale S.A., que tem como gestão operacional o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS).

O presente projeto tem como objetivo a produção de um livro e um documentário que terão como foco o relevo cárstico da Serra do Ibitipoca, com o propósito de revelar esse carste como referência nacional e mundial. A partir disso, busca-se a conscientização, de forma a contribuir com a conservação e compreensão do Patrimônio Espeleológico Brasileiro, conforme estabelecido no PNCPE (Portaria 358/2009/MMA), nos componentes 1, 3, 4, 5 e 6, executado pelo ICMBio/CECAV. O livro pretende fornecer ao público em geral informações sobre as principais grutas do Parque, apresentando assim a singularidade desse território, por meio de mapas espeleotopográficos inéditos, informações sobre a espeleologia do PEIB, abrangendo também temas como geologia, geomorfologia, hidrografia, geoespeleologia, bioespeleologia, o uso histórico cultural das grutas e outros conhecimentos desse rico patrimônio, além de fotografias e ilustrações de suas exuberantes claraboias e seus salões, ora volumosos, ora muito apertados. O documentário pretende apresentar pesquisadores, moradores locais e a equipe do PEIB, que são os maiores guardiões desse bem cultural e natural, proporcionando uma imersão na Serra do Ibitipoca. Espera-se que estas publicações sirvam como base para futuras ações de educação ambiental, planejamento territorial, estudos espeleológicos e demais atividades relacionadas às grutas do Parque.

A SEE agradece a todos os gestores, funcionários e colaboradores do PEIB com quem já trabalhou pela parceria contínua. A realização desta pesquisa conta com o forte apoio deles, através da disponibilização de alojamentos e transporte de equipamentos para as grutas, além da orientação aos acessos às cavernas e conversas enriquecedoras sobre o uso histórico-cultural dessas grutas.

 

Autoria do Texto: Beatriz Pires e Lorena Pires, 18 de abril de 2024.

 

Referências bibliográficas:

Minas Gerais. Plano de Manejo do Parque Estadual do Ibitipoca. Encarte 1 – Diagnóstico do Parque. Governo do Estado de Minas Gerais - SEMAD/IEF. Belo Horizonte – MG. 104p. 2007. Rubbioli, E., Auler, A., Menin, D., & Brandi, R. (2019).

Cavernas-Atlas do Brasil subterrâneo. Brasília, ICMBio/CECAV. 370p. Souza, M.F.V.R, Ferreira.L.R. (2019).

Eukoenenia ibitipoca: the first troglobitic Palpigradi (Arachnida) from a quartzitic cave.

Silva, D. N. L.; Martins, V. O.; Lima, M. T.; Silva, C. N. l. Elaboração do Plano de Manejo Espeleológico do Parque Estadual do Ibitipoca: exemplo de participação efetiva da comunidade espeleológica. In: MISE, K. M.; GUIMARÃES, G. B.. (orgs.) CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 37, 2023. Curitiba. Anais... Campinas: SBE, 2023. p.036-042.

 

É possível acompanhar o andamento do projeto através das Notas de Atividades:

I Expedição

II Expedição III Expedição IV Expedição